quarta-feira, 28 de dezembro de 2011


Modo de amar

Amor como tremor de terra
abalando montanhas e minérios
nas entranhas da minha carne.
Amor como relâmpagos e sóis
inaugurando auroras
ou ateando faíscas e incêndios
nas trevas da minha noite.
Amor como açudes sangrando
ou caudais tempestades
despencando dilúvios.
E não me falem de ruínas
nem de cinzas, nem de lama.

Astrid Cabral

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011



NOCTURNO A LA LUNA

La luna, que brincó por la ventana, 
en el piso del cuarto se restira 
rebotando en el muro que la mira 
y, del rebote, la penumbra emana. 

Su luz, entre las sombras deshilvana 
un metálico brillo que delira, 
y el espejo sediento le suspira 
desde el rincón, como presencia humana. 

Perforada la sombra, se estremece, 
y el rayo de la luna me parece 
escalera pendiente de los cielos. 

Y asido a la visión que me rodea, 
el afán de mi alma se recrea 
al subir por el rayo sus anhelos. 

Elías Nandino

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011


Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta. 
E lastimava, ignorante, a falta. 
Hoje não a lastimo. 
Não há falta na ausência. 
A ausência é um estar em mim. 
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus 
[braços, 
que rio e danço e invento exclamações alegres, 
porque a ausência, essa ausência assimilada, 
ninguém a rouba mais de mim. 

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011


"O bom humor tem algo de generoso: 
dá mais do que recebe."

Alain, pseud. de Émile-Auguste Chartier

sábado, 10 de dezembro de 2011


A Demora

O amor nos condena: 
demoras 
mesmo quando chegas antes. 
Porque não é no tempo que eu te espero. 

Espero-te antes de haver vida 
e és tu quem faz nascer os dias. 

Quando chegas 
já não sou senão saudade 
e as flores 
tombam-me dos braços 
para dar cor ao chão em que te ergues. 

Perdido o lugar 
em que te aguardo, 
só me resta água no lábio 
para aplacar a tua sede. 

Envelhecida a palavra, 
tomo a lua por minha boca 
e a noite, já sem voz 
se vai despindo em ti. 

O teu vestido tomba 
e é uma nuvem. 
O teu corpo se deita no meu, 
um rio se vai aguando até ser mar. 

Mia Couto

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011


A Regra Fundamental de Vida

Quando nós dizemos o bem, ou o mal... há uma série de pequenos satélites desses grandes planetas, e que são a pequena bondade, a pequena maldade, a pequena inveja, a pequena dedicação... No fundo é disso que se faz a vida das pessoas, ou seja, de fraquezas, de debilidades... Por outro lado, para as pessoas para quem isto tem alguma importância, é importante ter como regra fundamental de vida não fazer mal a outrem. A partir do momento em que tenhamos a preocupação de respeitar esta simples regra de convivência humana, não vale a pena perdermo-nos em grandes filosofias sobre o bem e sobre o mal. «Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti» parece um ponto de vista egoísta, mas é o único do género por onde se chega não ao egoísmo mas à relação humana. 

José Saramago

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011


En nuestros labios

En nuestros labios quisieron enarbolarse
como ponientes los gritos.
Luego, los horizontes se romperán como
cuerdas y mi corazón vendrá a mí de nuevo.
Mi corazón ¡tantas veces ido!

Norah Lange

sábado, 3 de dezembro de 2011


Soneto LII

Cantas y a sol y a cielo con tu canto
tu voz desgrana el cereal del día,
hablan los pinos con su lengua verde:
trinan todas las aves del invierno.

El mar llena sus sótanos de pasos,
de campanas, cadenas y gemidos,
tintinean metales y utensilios,
suenan las ruedas de la caravana.

Pero sólo tu voz escucho y sube
tu voz con vuelo y precisión de flecha,
baja tu voz con gravedad de lluvia,

tu voz esparce altísimas espadas,
vuelve tu voz cargada de violetas
y luego me acompaña por el cielo.

Pablo Neruda

Feliz Só Será

Feliz só será 
A alma que amar. 

'Star alegre 
E triste, 
Perder-se a pensar, 
Desejar 
E recear 
Suspensa em penar, 
Saltar de prazer, 
De aflição morrer — 
Feliz só será 
A alma que amar. 

Johann Wolfgang von Goethe

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011


Escuta, Amor

Quando damos as mãos, somos um barco feito de oceano, a agitar-se sobre as ondas, mas ancorado ao oceano pelo próprio oceano. Pode estar toda a espécie de tempo, o céu pode estar limpo, verão e vozes de crianças, o céu pode segurar nuvens e chumbo, nevoeiro ou madrugada, pode ser de noite, mas, sempre que damos as mãos, transformamo-nos na mesma matéria do mundo. Se preferires uma imagem da terra, somos árvores velhas, os ramos a crescerem muito lentamente, a madeira viva, a seiva. Para as árvores, a terra faz todo o sentido. De certeza que as árvores acreditam que são feitas de terra. 

Por isto e por mais do que isto, tu estás aí e eu, aqui, também estou aí. Existimos no mesmo sítio sem esforço. Aquilo que somos mistura-se. Os nossos corpos só podem ser vistos pelos nossos olhos. Os outros olham para os nossos corpos com a mesma falta de verdade com que os espelhos nos reflectem. Tu és aquilo que sei sobre a ternura. Tu és tudo aquilo que sei. Mesmo quando não estavas lá, mesmo quando eu não estava lá, aprendíamos o suficiente para o instante em que nos encontrámos. 

Aquilo que existe dentro de mim e dentro de ti, existe também à nossa volta quando estamos juntos. E agora estamos sempre juntos. O meu rosto e o teu rosto, fotografados imperfeitamente, são moldados pelas noites metafóricas e pelas manhãs metafóricas. Talvez outras pessoas chamem entendimento a essa certeza, mas eu e tu não sabemos se existem outras pessoas no mundo. Eu e tu declarámos o fim de todas as fronteiras e inseparámo-nos. Agora, somos uma única rocha, uma única montanha, somos uma gota que cai eternamente do céu, somos um fruto, somos uma casa, um mundo completo. Existem guerras dentro do nosso corpo, existem séculos e dinastias, existe toda uma história que pode ser contada sob múltiplas perspectivas, analisada e narrada em volumes de bibliotecas infinitas. Existem expedições arqueológicas dentro do nosso corpo, procuram e encontram restos de civilizações antigas, pirâmides de faraós, cidades inteiras cobertas pela lava de vulcões extintos. Existem aviões que levantam voo e aterram nos aeroportos interiores do nosso corpo, populações que emigram, êxodos de multidões famintas. E existem momentos despercebidos, uma criança que nasce, um velho que morre. Dentro de nós, existe tudo aquilo que existe em simultâneo em todas as partes. 

Questiono os gestos mais simples, escrever este texto, tentar dizer aquilo que foge às palavras e que, no entanto, precisa delas para existir com a forma de palavras. Mas eu questiono, pergunto-me, será que são necessárias as palavras? Eu sei que entendes o que não sei dizer. Repito: eu sei que entendes o que não sei dizer. Essa certeza é feita de vento. Eu e tu somos esse vento. Não apenas um pedaço do vento dentro do vento, somos o vento todo. 
Escuta, 
ouve. 
Amor. 
Amor. 

José Luís Peixoto

quarta-feira, 30 de novembro de 2011


Não Sei o que É Conhecer-me

Não sei o que é conhecer-me. Não vejo para dentro. 
Não acredito que eu exista por detrás de mim. 

Alberto Caeiro

segunda-feira, 28 de novembro de 2011


Tenho Tanto Sentimento

Tenho tanto sentimento 
Que é frequente persuadir-me 
De que sou sentimental, 
Mas reconheço, ao medir-me, 
Que tudo isso é pensamento, 
Que não senti afinal. 

Temos, todos que vivemos, 
Uma vida que é vivida 
E outra vida que é pensada, 
E a única vida que temos 
É essa que é dividida 
Entre a verdadeira e a errada. 

Qual porém é a verdadeira 
E qual errada, ninguém 
Nos saberá explicar; 
E vivemos de maneira 
Que a vida que a gente tem 
É a que tem que pensar. 

Fernando Pessoa

La infinita 

Ves estas manos? Han medido 
la tierra, han separado
los minerales y los cereales, 
han hecho la paz y la guerra, 
han derribado las distancias 
de todos los mares y ríos, 
y sin embargo 
cuanto te recorren 
a ti, pequeña, 
grano de trigo, alondra, 
no alcanzan a abarcarte, 
se cansan alcanzando 
las palomas gemelas 
que reposan o vuelan en tu pecho, 
recorren las distancias de tus piernas, 
se enrollan en la luz de tu cintura. 
Para mí eres tesoro más cargado 
de inmensidad que el mar y su racimos 
y eres blanca y azul y extensa como 
la tierra en la vendimia. 
En ese territorio, 
de tus pies a tu frente,
andando, andando, andando, 
me pasaré la vida.

Pablo Neruda

quinta-feira, 24 de novembro de 2011


"A consciência de amar e ser amado 
traz um conforto e riqueza à vida 
que nada mais consegue trazer."


Oscar Wilde.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011


Cristais

Mais claro e fino do que as finas pratas
o som da tua voz deliciava…
Na dolência velada das sonatas
como um perfume a tudo perfumava.

Era um som feito luz, eram volatas
em lânguida espiral que iluminava,
brancas sonoridades de cascatas…
Tanta harmonia melancolizava.

Filtros sutis de melodias, de ondas
de cantos volutuosos como rondas
de silfos leves, sensuais, lascivos…

Como que anseios invisíveis, mudos,
da brancura das sedas e veludos,
das virgindades, dos pudores vivos.

Cruz e Sousa

domingo, 20 de novembro de 2011



"Só sabemos com exactidão quando sabemos pouco; 
 medida que vamos adquirindo conhecimentos, instala-se a dúvida."

Johann Wolfgang von Goethe

sexta-feira, 18 de novembro de 2011



Soneto XL

Era verde el silencio, mojada era la luz,
temblaba el mes de Junio como una mariposa
y en el austral dominio, desde el mar y las piedras,
Matilde, atravesaste el mediodía.

Ibas cargada de flores ferruginosas,
algas que el viento sur atormenta y olvida,
aún blancas, agrietadas por la sal devorante,
tus manos levantaban las espigas de arena.

Amo tus dones puros, tu piel de piedra intacta,
tus uñas ofrecidas en el sol de tus dedos,
tu boca derramada por toda la alegría,

pero, para mi casa vecina del abismo,
dame el atormentado sistema del silencio,
el pabellón del mar olvidado en la arena.

Pablo Neruda

terça-feira, 15 de novembro de 2011


La infinita

Ves estas manos? Han medido 
la tierra, han separado
los minerales y los cereales, 
han hecho la paz y la guerra, 
han derribado las distancias 
de todos los mares y ríos, 
y sin embargo 
cuanto te recorren 
a ti, pequeña, 
grano de trigo, alondra, 
no alcanzan a abarcarte, 
se cansan alcanzando 
las palomas gemelas 
que reposan o vuelan en tu pecho, 
recorren las distancias de tus piernas, 
se enrollan en la luz de tu cintura. 
Para mí eres tesoro más cargado 
de inmensidad que el mar y su racimos 
y eres blanca y azul y extensa como 
la tierra en la vendimia. 
En ese territorio, 
de tus pies a tu frente,
andando, andando, andando, 
me pasaré la vida.

Pablo Neruda

sexta-feira, 11 de novembro de 2011


Soneto VIII

Si no fuera porque tus ojos tienen color de luna,
de día con arcilla, con trabajo, con fuego,
y aprisionada tienes la agilidad del aire,
si no fuera porque eres una semana de ámbar,

si no fuera porque eres el momento amarillo
en que el otoño sube por las enredaderas
y eres aún el pan que la luna fragante
elabora paseando su harina por el cielo,

oh, bienamada, yo no te amaría!
En tu abrazo yo abrazo lo que existe,
la arena, el tiempo, el árbol de la lluvia,

y todo vive para que yo viva:
sin ir tan lejos puedo verlo todo:
veo en tu vida todo lo viviente.

Pablo Neruda

quinta-feira, 10 de novembro de 2011



Floresça

No principio da vida todos são iniciados como sementes...
Quando o primeiro broto surge, o Mundo é apresentado a ele...
e muitas vezes os brotos se perguntam: "Como brotei?"
Outros nem sequer se dão conta.
Vivencie o broto do momento...
Flua nesse brotar...
Cultive com amor o seu território,
não deixe as ervas daninhas, construídas de sua própria ilusão,
interferirem no seu crescimento...
Vivencie este crescimento...
Assim você será uma bonita árvore
cheia de sabedoria e amor a oferecer...
Sinta a necessidade do coração
e vá em frente escalando a divindade do seu Ser...
Acredite, o supremo mora em vc...
Brote! Cresça! Sinta se vc está crescendo no caminho certo,
identifique, faça o movimento verdadeiro para que sua árvore
não míngüe.
Florescer na vida é florescer no hoje, no agora e no amanhã!
Floresça a sua vida, simplesmente floresça!

Desconheço o autor

Esta Espécie de Loucura

Esta espécie de loucura 
Que é pouco chamar talento 
E que brilha em mim, na escura 
Confusão do pensamento, 

Não me traz felicidade; 
Porque, enfim, sempre haverá 
Sol ou sombra na cidade. 
Mas em mim não sei o que há 

Fernando Pessoa

segunda-feira, 7 de novembro de 2011



Soneto LXXXI

Ya eres mía. Reposa con tu sueño en mi sueño.
Amor, dolor, trabajos, deben dormir ahora.
Gira la noche sobre sus invisibles ruedas
y junto a mí eres pura como el ámbar dormido.

Ninguna más, amor, dormirá con mis sueños.
Irás, iremos juntos por las aguas del tiempo.
Ninguna viajará por la sombra conmigo,
sólo tú, siempreviva, siempre sol, siempre luna.

Ya tus manos abrieron los puños delicados
y dejaron caer suaves signos sin rumbo,
tus ojos se cerraron como dos alas grises,

mientras yo sigo el agua que llevas y me lleva:
la noche, el mundo, el viento devanan su destino,
y ya no soy sin ti sino sólo tu sueño.

Pablo Neruda

Ouvir Estrelas 

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

Olavo Bilac

quinta-feira, 3 de novembro de 2011


A Palavra Mágica

Certa palavra dorme na sombra 
de um livro raro. 
Como desencantá-la? 
É a senha da vida 
a senha do mundo. 
Vou procurá-la. 

Vou procurá-la a vida inteira 
no mundo todo. 
Se tarda o encontro, se não a encontro, 
não desanimo, 
procuro sempre. 

Procuro sempre, e minha procura 
ficará sendo 
minha palavra. 

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 31 de outubro de 2011


A Serenata

Uma noite de lua pálida e gerânios
ele virá com a boca e mão incríveis 
tocar flauta no jardin.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos: 
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela,se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?

Adélia Prado

sábado, 29 de outubro de 2011


Acredita em Ti Mesmo

O homem converte-se aos poucos naquilo que acredita poder vir a ser. 
Se me repetir incessantemente a mim mesmo que sou incapaz de fazer determinada coisa, 
é possível que isso acabe finalmente por se tornar verdade. 
Pelo contrário, se acreditar que a posso fazer, 
acabarei garantidamente por adquirir a capacidade para a fazer, 
ainda que não a tenha num primeiro momento. 

Mohandas Gandhi

quinta-feira, 20 de outubro de 2011


"A beleza ideal 
está na simplicidade calma e serena."

Johann Wolfgang von Goethe

sexta-feira, 14 de outubro de 2011


Nada se Pode Comparar Contigo

O ledo passarinho, que gorjeia 
D'alma exprimindo a cândida ternura; 
O rio transparente, que murmura, 
E por entre pedrinhas serpenteia; 

O Sol, que o céu diáfano passeia, 
A Lua, que lhe deve a formosura, 
O sorriso da Aurora, alegre e pura, 
A rosa, que entre os Zéfiros ondeia; 

A serena, amorosa Primavera, 
O doce autor das glórias que consigo, 
A Deusa das paixões e de Citera; 

Quanto digo, meu bem, quanto não digo, 
Tudo em tua presença degenera. 
Nada se pode comparar contigo. 

Bocage

domingo, 9 de outubro de 2011


Amor

o teu rosto à minha espera, o teu rosto 
a sorrir para os meus olhos, existe um 
trovão de céu sobre a montanha. 

as tuas mãos são finas e claras, vês-me 
sorrir, brisas incendeiam o mundo, 
respiro a luz sobre as folhas da olaia. 

entro nos corredores de outubro para 
encontrar um abraço nos teus olhos, 
este dia será sempre hoje na memória. 

hoje compreendo os rios. a idade das 
rochas diz-me palavras profundas, 
hoje tenho o teu rosto dentro de mim. 

José Luís Peixoto

09 de outubro
Hasta siempre comandante
Ernesto Rafael

quinta-feira, 6 de outubro de 2011


El amor

Pequeña
rosa,
rosa pequeña,
a veces, 
diminuta y desnuda,
parece
que en una mano mía
cabes, 
que así voy a cerrarte
y a llevarte a mi boca,
pero 
de pronto 
mis pies tocan tus pies y mi boca tus labios,
has crecido,
suben tus hombros como dos colinas,
tus pechos se pasean por mi pecho,
mi brazo alcanza apenas a rodear la delgada
línea de luna nueva que tiene tu cintura:
en el amor como agua de mar te has desatado:
mido apenas los ojos más extensos del cielo
y me inclino a tu boca para besar la tierra.

Pablo Neruda

segunda-feira, 3 de outubro de 2011


Dedução

Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.

Vladimir Maiakóvski

domingo, 2 de outubro de 2011



MAGIA DA PRIMAVERA

Sou menina vestida de flores coloridas
pulando corda nos fios dos raios do alvorecer…
Trago comigo uma alegria desmedida
na explosão da estação que me fez nascer.

Brinco com o vento que desgrenha as árvores
elevando as pipas ao teto pincelado em anil…
Sou a canção da vida que não necessita de clave,
sou alegre, fascinante, bela e juvenil.

Sou rosa menina de sete saias encarnadas
que desperta nos corações a paixão…
Sou perfume e alma nas chuvosas madrugadas.
sou magia, frescor, ventura e sedução…

Sou botão que se abre à tarde em suspiros
e em nuances, encanto o mais hostil dos vilões…
Acendo à noite com estrelinhas e lampiros,
sou primavera de amores, poesias e inspirações.

Carmen Vervloet

terça-feira, 27 de setembro de 2011


"Estar sempre de acordo consigo mesmo: 
não conheço melhor atestado de boa saúde."

François Mitterrand

sábado, 10 de setembro de 2011


Sinto

Sinto 
que em minhas veias arde 
sangue, 
chama vermelha que vai cozendo 
minhas paixões no coração. 

Mulheres, por favor, 
derramai água: 
quando tudo se queima, 
só as fagulhas voam 
ao vento. 

Federico García Lorca

quinta-feira, 8 de setembro de 2011


Lágrimas Ocultas 

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que rí e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi outras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca

sábado, 3 de setembro de 2011


A paz é igual a uma grande roda humana, 
enquanto todos estiverem de mãos dadas, 
as armas estarão no chão.

Tiago Bicalho

terça-feira, 30 de agosto de 2011


Perfumes e Amor

A flor mimosa que abrilhanta o prado
Ao sol nascente vai pedir fulgor;
E o sol, abrindo da açucena as folhas,
Dá-lhe perfumes - e não nega amor.

Eu que não tenho, como o sol, seus raios,
Embora sinta nesta fronte ardor,
Sempre quisera ao encetar teu álbum
Dar-lhe perfumes - desejar-lhe amor.

Meu Deus! nas folhas deste livro puro
Não manche o pranto da inocência o alvor,
Mas cada canto que cair dos lábios
Traga perfumes - e murmure amor.

Aqui se junte, qual num ramo santo,
Do nardo o aroma e da camélia a cor,
E possa a virgem, percorrendo as folhas,
Sorver perfumes - respirar amor.

Encontre a bela, caprichosa sempre,
Nos ternos hinos d'infantil frescor
Entrelaçados na grinalda amiga
Doces perfumes - e celeste amor.

Talvez que diga, recordando tarde
O doce anelo do feliz cantor:
 "Meu Deus! nas folhas do meu livro d'alma
Sobram perfumes - e não falta amor!"

Casimiro de Abreu

segunda-feira, 22 de agosto de 2011


Timidez 

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
- mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...
- palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
- que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...
e um dia me acabarei.

Cecília Meireles

sábado, 20 de agosto de 2011


Só existe dois dias no ano que nada pode ser feito. 
Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, 
portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, 
fazer e principalmente viver.

Dalai Lama

quinta-feira, 18 de agosto de 2011


"A pintura é uma poesia que se vê e não se sente, 
e a poesia é uma pintura que se sente e não se vê."

Leonardo da Vinci

quarta-feira, 17 de agosto de 2011



Sincero 

Instigar o que é convencional
É acreditar e alar o sonho régio
Agir com a prática passional
Tomar a vida como privilégio
Declamar a poesia com um gesto
Abraçar a quimera e soprar vida
Declarar a alegria em manifesto
Publicar a saudade na despedida
O amor que sinto caminha pelo chão
Reclamo até nos telhados a tua falta
Acalme sem demora o meu coração
Teu brilho avassala o peito trancado
Teu sabor é suave como um néctar
Achega-me esse teu corpo dourado.

James Assaf

segunda-feira, 15 de agosto de 2011


EntréGate

¿Cómo te atreves a mirarme así,
a ser tan bella, y encima sonreir?
Mía, hoy serás mía por fin.
Cierra los ojos, déjate querer.
Quiero llevarte al valle del placer.
Mía, hoy serás mía, lo sé,
Déjame robar el gran secreto de tu piel.
Déjate llevar por tus instintos de mujer.

Entrégate - aun no te siento.
Deja que tu cuerpo se acostumbre a mi calor.
Entrégate, mi prisionera,
La pasión no espera y ya no puedo más de amor.

Abre los ojos, no me hagas sufrir.
No te das cuenta que tengo sed de ti.
Mía, hoy serás mía por fin.
Déjame besar el brillo de tu desnudez.
Déjame llegar a ese rincón que yo soñé.

Entrégate - aun no te siento.
Deja que tu cuerpo se acostumbre a mi calor.
Entrégate sin condiciones,
tengo mil razones, y ya no aguanto más de amor.

Luis Miguel

sábado, 13 de agosto de 2011


Os Teus Pés 

Quando não te posso contemplar
Contemplo os teus pés.
Teus pés de osso arqueado,
Teus pequenos pés duros,
Eu sei que te sustentam
E que teu doce peso
Sobre eles se ergue.
Tua cintura e teus seios,
A duplicada purpura
Dos teus mamilos,
A caixa dos teus olhos
Que há pouco levantaram vôo,
A larga boca de fruta,
Tua rubra cabeleira,
Pequena torre minha.
Mas se amo os teus pés
É só porque andaram
Sobre a terra e sobre
O vento e sobre a água,
Até me encontrarem.

Pablo Neruda

quinta-feira, 11 de agosto de 2011


Silêncio Amoroso

Preciso do teu silêncio
cúmplice
sobre minhas falhas.
Não fale.
Um sopro, a menor vogal 
pode me desamparar.
E se eu abrir a boca
minha alma vai rachar.
O silêncio, aprendo, 
pode construir. É um modo
denso/tenso
- de coexistir.
Calar, às vezes,
é fina forma de amar.

Affonso Romano de Sant'Anna

terça-feira, 9 de agosto de 2011


Soneto de amor

Não me peças palavras, nem baladas, 
Nem expressões, nem alma... Abre-me o seio, 
Deixa cair as pálpebras pesadas, 
E entre os seios me apertes sem receio. 

Na tua boca sob a minha, ao meio, 
Nossas línguas se busquem, desvairadas... 
E que os meus flancos nus vibrem no enleio 
Das tuas pernas ágeis e delgadas. 

E em duas bocas uma língua..., — unidos, 
Nós trocaremos beijos e gemidos, 
Sentindo o nosso sangue misturar-se. 

Depois... — abre os teus olhos, minha amada! 
Enterra-os bem nos meus; não digas nada... 
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce! 

José Régio

quinta-feira, 4 de agosto de 2011



Soneto XI

Tengo hambre de tu boca, de tu voz, de tu pelo
y por las calles voy sin nutrirme, callado,
no me sostiene el pan, el alba me desquicia,
busco el sonido líquido de tus pies en el día.
Estoy hambriento de tu risa resbalada,
de tus manos color de furioso granero,
tengo hambre de la pálida piedra de tus uñas,
quiero comer tu piel como una intacta almendra.
Quiero comer el rayo quemado en tu hermosura,
la nariz soberana del arrogante rostro,
quiero comer la sombra fugaz de tus pestañas
y hambriento vengo y voy olfateando el crepúsculo
buscándote, buscando tu corazón caliente
como un puma en la soledad de Quitratúe.

Pablo Neruda

quarta-feira, 3 de agosto de 2011



Mágico vivir

Arde aún y es espléndida la llama
de aquel fuego. ¿Recuerdas esas tardes,
el canto de los pájaros; la tenue
veladura de un mar casi tan negro
como tus ojos? Súbita, la vida
nos quemaba por vez primera entonces.
Nosotros, qué podíamos hacer
sino aceptar ese secreto incendio,
su agonía y su éxtasis, fundidos
en un mismo sentir inexpresable.
Hiere aún ese mágico vivir:
ya sólo quiero envejecer contigo.

Abelardo Linares

segunda-feira, 1 de agosto de 2011


O Vento na Ilha

O vento é um cavalo
Ouça como ele corre
Pelo mar, pelo céu.
Quer me levar: escuta
como recorre ao mundo
para me levar para longe.

Me esconde em teus braços
por somente esta noite,
enquanto a chuva rompe
contra o mar e a terra
sua boca inumerável.

Escuta como o vento
me chama galopando
para me levar para longe.

Com tua frente a minha frente,
com tua boca em minha boca,
atados nossos corpos
ao amor que nos queima,
deixa que o vento passe
sem que possa me levar.

Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e me busque
galopando na sombra,
entretanto eu, emergido
debaixo teus grandes olhos,
por somente esta noite
descansarei, amor meu.

Pablo Neruda

sábado, 30 de julho de 2011


A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; 
mas só pode ser vivida olhando-se para a frente.

Sören Kierkegaard