domingo, 6 de fevereiro de 2011


A Palavra

Eleva-se entre a espuma, verde e cristalina 
e a alegria aviva-se em redonda ressonância. 
O seu olhar é um sonho porque é um sopro indivisível 
que reconhece e inventa a pluralidade delicada. 
Ao longe e ao perto o horizonte treme entre os seus cílios. 

Ela encanta-se. Adere, coincide com o ser mesmo 
da coisa nomeada. O rosto da terra se renova. 
Ela aflui em círculos desagregando, construindo. 
Um ouvido desperta no ouvido, uma língua na língua. 
Sobre si enrola o anel nupcial do universo. 

O gérmen amadurece no seu corpo nascente. 
Nas palavras que diz pulsa o desejo do mundo. 
Move-se aqui e agora entre contornos vivos. 
Ignora, esquece, sabe, vive ao nível do universo. 
Na sua simplicidade terrestre há um ardor soberano. 

António Ramos Rosa