domingo, 29 de abril de 2012


Todos os Caminhos me Servem

Todos os caminhos me servem. 
Em todos serei o ébrio 
cabeceando nas esquinas. 
Uma rua deserta e o hálito 
das pessoas que se escondem, 
uma rua deserta e um rafeiro 
por companheiro. 

Ó mar que me sacode os cabelos 
que mulher alguma beijou, 
lágrimas que os meus olhos vertem 
no suor dos lagares, 
que uma onda vos misture 
e vos leve a morrer 
numa praia ignorada. 

Fernando Namora

sexta-feira, 20 de abril de 2012


És dos Céus o Composto Mais Brilhante

Marília, nos teus olhos buliçosos 
Os Amores gentis seu facho acendem; 
A teus lábios, voando, os ares fendem 
Terníssimos desejos sequiosos. 

Teus cabelos subtis e luminosos 
Mil vistas cegam, mil vontades prendem; 
E em arte aos de Minerva se não rendem 
Teus alvos, curtos dedos melindrosos. 

Reside em teus costumes a candura, 
Mora a firmeza no teu peito amante, 
A razão com teus risos se mistura. 

És dos Céus o composto mais brilhante; 
Deram-se as mãos Virtude e Formosura, 
Para criar tua alma e teu semblante. 

Bocage

quarta-feira, 4 de abril de 2012


"Uma coisa bela persuade por si mesma, sem necessidade de um orador." 

William Shakespeare

sexta-feira, 16 de março de 2012


La pródiga

Yo te escogí entre todas las mujeres 
para que repitieras
sobre la tierra
mi corazón que baila con espigas 
o lucha sin cuartel cuando hace falta.

Yo te pregunto, dónde está mi hijo?

No me esperaba en ti, reconociéndome,
y diciéndome: «Llámame para salir sobre la tierra
a continuar tus luchas y tus cantos»?

Devuélveme a mi hijo!

Lo has olvidado en las puertas
del placer, oh pródiga
enemiga,
has olvidado que viniste a esta cita,
la más profunda, aquella
en que los dos, unidos, seguiremos hablando
por tu boca, amor mío,
ay todo aquello
que no alcanzamos a decirnos?

Cuando yo te levanto en una ola 
de fuego y sangre, y se duplica 
la vida entre nosotros, 
acuérdate
que alguien nos llama
como nadie jamás nos ha llamado,
y que no respondemos
y nos quedamos solos y cobardes 
ante la vida que negamos.

Pródiga,
abre las puertas, 
y que en tu corazón 
el nudo ciego 
se desenlace y vuele 
con tu sangre y la mía 
por el mundo!

Pablo Neruda 

sábado, 21 de janeiro de 2012


Certas Palavras

Certas palavras não podem ser ditas 
em qualquer lugar e hora qualquer. 
Estritamente reservadas 
para companheiros de confiança, 
devem ser sacralmente pronunciadas 
em tom muito especial 
lá onde a polícia dos adultos 
não adivinha nem alcança. 

Entretanto são palavras simples: 
definem 
partes do corpo, movimentos, actos 
do viver que só os grandes se permitem 
e a nós é defendido por sentença 
dos séculos. 

E tudo é proibido. Então, falamos. 

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012


Soneto LXIV

De tanto amor mi vida se tiñó de violeta
y fui de rumbo en rumbo como las aves ciegas
hasta llegar a tu ventana, amiga mía:
tú sentiste un rumor de corazón quebrado

y allí de la tinieblas me levanté a tu pecho,
sin ser y sin saber fui a la torre del trigo,
surgí para vivir entre tus manos,
me levanté del mar a tu alegría.

Nadie puede contar lo que te debo, es lúcido
lo que te debo, amor, y es como una raíz
natal de Araucanía, lo que te debo, amada.

Es sin duda estrellado todo lo que te debo,
lo que te debo es como el pozo de una zona silvestre
en donde guardó el tiempo relámpagos errantes.

Pablo Neruda

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012


Há Poetas Que São Artistas

E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!…
E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!…

Que triste não saber florir!
Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!…
Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma.

Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem respira,
E olho para as flores e sorrio…
Não sei se elas me compreendem
Nem sei eu as compreendo a elas,
Mas sei que a verdade está nelas e em mim
E na nossa comum divindade
De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao solo pelas Estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos
E não termos sonhos no nosso sono.

Alberto Caeiro