quinta-feira, 30 de junho de 2011


Sim: Existo Dentro do Meu Corpo

Sim: existo dentro do meu corpo. 
Não trago o sol nem a lua na algibeira. 
Não quero conquistar mundos porque dormi mal, 
Nem almoçar a terra por causa do estômago. 
Indiferente? 
Não: natural da terra, que se der um salto, está em falso, 
Um momento no ar que não é para nós, 
E só contente quando os pés lhe batem outra vez na terra, 
Traz! na realidade que não falta! 

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

segunda-feira, 20 de junho de 2011


Príncipe

Príncipe: 
Era de noite quando eu bati à tua porta 
e na escuridão da tua casa tu vieste abrir 
e não me conheceste. 
Era de noite 
são mil e umas 
as noites em que bato à tua porta 
e tu vens abrir 
e não me reconheces 
porque eu jamais bato à tua porta. 
Contudo 
quando eu batia à tua porta 
e tu vieste abrir 
os teus olhos de repente 
viram-me 
pela primeira vez 
como sempre de cada vez é a primeira 
a derradeira 
instância do momento de eu surgir 
e tu veres-me. 
Era de noite quando eu bati à tua porta 
e tu vieste abrir 
e viste-me 
como um náufrago sussurrando qualquer coisa 
que ninguém compreendeu. 
Mas era de noite 
e por isso 
tu soubeste que era eu 
e vieste abrir-te 
na escuridão da tua casa. 
Ah era de noite 
e de súbito tudo era apenas 
lábios pálpebras intumescências 
cobrindo o corpo de flutuantes volteios 
de palpitações trémulas adejando pelo rosto. 
Beijava os teus olhos por dentro 
beijava os teus olhos pensados 
beijava-te pensando 
e estendia a mão sobre o meu pensamento 
corria para ti 
minha praia jamais alcançada 
impossibilidade desejada 
de apenas poder pensar-te. 

São mil e umas 
as noites em que não bato à tua porta 
e vens abrir-me 

Ana Hatherly

quarta-feira, 15 de junho de 2011


Até quando terás, minha alma, 
esta doçura

Até quando terás, minha alma, esta doçura, 
este dom de sofrer, este poder de amar, 
a força de estar sempre – insegura – segura 
como a flecha que segue a trajetória obscura, 
fiel ao seu movimento, exata em seu lugar...?

Cecília Meireles

segunda-feira, 13 de junho de 2011


O que Ouviu os Meus Versos

O que ouviu os meus versos disse-me: "Que tem isso de novo? 
Todos sabem que unia flor é uma flor e uma árvore é uma árvore. 
Mas eu respondi, nem todos, (?.......... ) 
Porque todos amam as flores por serem belas, e eu sou diferente 
E todos amam as árvores por serem verdes e darem sombra, mas eu não. 
Eu amo as flores por serem flores, diretamente. 
Eu amo as árvores por serem árvores, sem o meu pensamento. 

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

sexta-feira, 10 de junho de 2011


En medio de la tierra apartaré
las esmeraldas para divisarte
y tú estarás copiando las espigas
con una pluma de agua mensajera.
Qué mundo! Qué profundo perejil!
Qué nave navegando en la dulzura!
Y tú tal vez y yo tal vez topacio!
Ya no habrá división en las campanas.
Ya no habrá sino todo el aire libre,
las manzanas llevadas por el viento,
el suculento libro en la enramada,
y allí donde respiran los claveles
fundaremos un traje que resista
la eternidad de un beso victorioso.

Pablo Neruda
Sonetos De Amor

terça-feira, 7 de junho de 2011


Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
Apesar de todos os desafios,
Incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas
E se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si,
Mas ser capaz de encontrar um oásis
No recôndito da sua alma.

É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um “não”.
É ter segurança para receber uma crítica,
Mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou
Construir um castelo ...

Fernando Pessoa

sábado, 4 de junho de 2011


Sou Eu

Pedi pro sol me responder: o que é o amor?
Ele me falou: é um grande fogo
Procurei nos búzios e tornei a perguntar
Eles me disseram: o amor é um jogo
Lembrei que a lua tinha muito pra contar
Ela se abriu pra mim:
Disse que o amor usa tantas fases
É uma luz que não tem fim
Eu pedi pro vento que soprasse o que é o amor
Ele garantiu: é tempestade
Bandos de estrelas me contaram sem piscar:
O amor é pura eternidade
Sem saber direito, perguntei pro coração,
Que sem medo, respondeu:
O amor é fogo, água, céu e terra
Sente, o amor sou eu
Sou em quem gera essa energia que conduz
Seu coração à essa estrada, essa luz
O amor é fogo, água, céu e terra
Sente, o amor sou eu
Sou eu quem salva o teu caminho da ilusão
Eu que te consagro, repetiu meu coração
O amor é fogo, água, céu e terra
Sente, o amor sou eu

Composição : Isolda / Eduardo Dusek

quarta-feira, 1 de junho de 2011


Amo-te como um Planeta 
em Rotação Difusa

Amo-te como um planeta em rotação difusa 
E quero parar como o servo colado ao chão. 
Frágil cerâmica de poros soprados no teu hálito 
Vasilha que ergues em tua mão de oleiro 
Cálice que não pudeste afastar de ti. 

Daniel Faria