sábado, 30 de abril de 2011


Os Meus Pensamentos 
são Todos Sensações

Sou um guardador de rebanhos. 
O rebanho é os meus pensamentos 
E os meus pensamentos são todos sensações. 
Penso com os olhos e com os ouvidos 
E com as mãos e os pés 
E com o nariz e a boca. 
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la 
E comer um fruto é saber-lhe o sentido. 
Por isso quando num dia de calor 
Me sinto triste de gozá-lo tanto. 
E me deito ao comprido na erva, 
E fecho os olhos quentes, 
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, 
Sei a verdade e sou feliz. 

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

sábado, 23 de abril de 2011


Trazes-me em Tuas Mãos 
de Vitorioso

Trazes-me em tuas mãos de vitorioso 
Todos os bens que a vida me negou, 
E todo um roseiral, a abrir, glorioso 
Que a solitária estrada perfumou. 

Neste meio-dia límpido, radioso, 
Sinto o teu coração que Deus talhou 
Num pedaço de bronze luminoso, 
Como um berço onde a vida me pousou. 

O silêncio, ao redor, é uma asa quieta... 
E a tua boca que sorri e anseia, 
Lembra um cálix de tulipa entreaberta... 

Cheira a ervas amargas, cheira a sândalo... 
E o meu corpo ondulante de sereia 
Dorme em teus braços másculos de vândalo... 

Florbela Espanca

sexta-feira, 22 de abril de 2011


Sempre que Tiveres Dúvidas

Sempre que tiveres dúvidas, ou quando o teu eu te pesar em excesso, experimenta o seguinte recurso: lembra-te do rosto do homem mais pobre e mais desamparado que alguma vez tenhas visto e pergunta-te se o passo que pretendes dar lhe vai ser de alguma utilidade. Poderá ganhar alguma coisa com isso? Fará com que recupere o controlo da sua vida e do seu destino? Por outras palavras, conduzirá à autonomia espiritual e física dos milhões de pessoas que morrem de fome? Verás, então, como as tuas dúvidas e o teu eu se desvanecem. 

Mohandas Gandhi

quinta-feira, 21 de abril de 2011


A Vida da Poesia

Hoje sei como se exprime a vida da poesia 
com a sinceridade das emoções linguísticas 
com que o mundo devasta e enche as nossas vidas 

Aprendi a clareza das imagens fictícias 
recolhidas na luz do corpo nu e vivo 
entre os golpes orais errante desferidos 

Gastão Cruz

terça-feira, 19 de abril de 2011


A Beleza

De um sonho escultural tenho a beleza rara, 
E o meu seio, — jardim onde cultivo a dor, 
Faz despertar no Poeta um vivo e intenso amor, 
Com a eterna mudez do marmor' de Carrara 

Sou esfinge subtil no Azul a dominar, 
Da brancura do cisne e com a neve fria; 
Detesto o movimento, e estremeço a harmonia; 
Nunca soube o que é rir, nem sei o que é chorar. 

O Poeta, se me vê nas atitudes fátuas 
Que pareço copiar das mais nobres estátuas, 
Consome noite e dia em estudos ingentes.. 

Tenho, p'ra fascinar o meu dócil amante, 
Espelhos de cristal, que tornaram deslumbrante 
A própria imperfeição: — os meus olhos ardentes! 

Charles Baudelaire

segunda-feira, 18 de abril de 2011


Tengo un secreto para ti.

Nunca te he visto tan siquiera
pero he formado tu imagen en mi mente;
y quiero insuflarle mi sangre y mi vida
para luego poder mirarte y quererte.

Esa imagen tuya creada a mi medida
dentro de mi pecho alborotado,
será un sueño sutil y sagrado
que llevaré abrazado por vida. 

Es tan hermoso haber soñado
con el primor de tu imagen y tenerte,
que no me importa morir en el sueño
si al final te tengo y puedo verte.

No me importa no tener otro sueño
si el futuro así me espera,
que otra vida sin ti no quisiera
y contigo mi vida será un sueño.

Jecego.

ÊXTASE

A noite é silenciosa... A noite é quieta...
Desliza a lua na amplidão, prateada,
- e a abóbada do céu, azul, coalhada
de estrelas, vela o sonho de algum poeta...

Há pelo espaço a sensação discreta
de alguma sinfonia, a sós, entoada...
- Há em tudo uma alegria sufocada
e uma tristeza por demais secreta...

Da vida, sem querer, tudo se alheia,
e a vista deslumbrada, a nossa vista,
quase que louca pelo céu passeia...

J. G. de Araújo Jorge

domingo, 17 de abril de 2011



Amar é Pensar

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela, 
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela. 
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala, 
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança. 
Amar é pensar. 
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela. 
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela. 
Tenho uma grande distração animada. 
Quando desejo encontrá-la 
Quase que prefiro não a encontrar, 
Para não ter que a deixar depois. 
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. 
Quero só Pensar nela. 
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar. 

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

sexta-feira, 15 de abril de 2011


Amor

Amor é o sol que não cobra por seus raios. 
É o ar que preenche todos os recipientes por dentro e por fora. 
É o oceano que aceita todos os tipos de rios sem questionar suas origens. 
É a árvore que não se vangloria ao dar sombra e abrigo 
e curva-se para oferecer seus frutos. 
É a água do mar que dissolve as rochas da arrogância inflexível. 
É a água doce do rio que mata a sede de todos que vêm na sua praia. 
É o chamado do sábio que ama o que sabe e sabe o que ama.

Brahma Kumaris

quarta-feira, 13 de abril de 2011


Adotarei o Amor

Na Primavera, andarei com o amor, lado a lado, 
e cantaremos juntos entre as colinas; 
e seguiremos as pegadas da vida, que são as violetas e as margaridas; 
e beberemos a água da chuva, acumulada nos poços,
em taças feitas de narciso e lírios.

No Verão, deitar-me-ei ao lado do amor sobre camas feitas com feixes de espigas, 
tendo o firmamento por cobertor e a lua e as estrelas por companheiras.

No Outono, irei com o amor aos vinhedos e nos sentaremos no lagar,
e contemplaremos as árvores se despindo das suas vestimentas douradas
e os bandos de aves migratórias voando para as costas do mar. 

No Inverno, sentar-me-ei com o amor diante da lareira e conversaremos
sobre os acontecimentos dos séculos e os anais das nações e povos.

O amor será meu tutor na juventude, meu apoio na maturidade,
e meu consolo na velhice.
O amor permanecerá comigo até o fim da vida, até que a morte chegue,
e a mão de Deus nos reúna de novo.

Kahlil Gibran

domingo, 10 de abril de 2011


Yo Soy La Amada

Yo soy la amada, amante, soy la amada:
voy andando las horas que separan
mi cuerpo de tu cuerpo
y restañando las frágiles heridas
de huellas que volaron con tu nombre.

Yo soy la amada, amante, soy la amada:
la que brotó salvaje entre tu trigo
y lo tiñó de púrpura,
la que sin darse cuenta
iluminó de pronto tu paisaje,
la que acudió a tu llanto
y en su aljibe
atesoró tus lágrimas.

Yo soy la amada, amante, soy la amada:
la que en silencio mira.
La que te espera.
La que teje sus sueños con tu vida.

LUZMARÍA JIMÉNEZ FARO

sábado, 9 de abril de 2011


Gotas De Imposible

Estabas junto a mí. Tu aliento blando
me embriagaba aromoso,
sonreía la fresa de tus labios,
amor vagaba en torno.

Casi mi mano se posó en tu mano,
mi cabeza en tu hombro
se aquietó como un niño consentido
sobre un encaje blondo.

Rocé la nieve de tu frente,
cálido nido sedeño y hondo.
Pensé que estabas lejos, tan distante
como un país remoto,
que tus manos jamás se posarían
sobre mi sien de peregrino loco,
que eras a mí una gota de imposible
de un dulce mar ignoto.

Entonces recogido y solitario,
de la noche en el fondo,
como un licor amargo que desborda,
me embriagué de sollozos.

FERNANDO PRIETO ARANGO

sexta-feira, 8 de abril de 2011


Nada é pequeno no amor. 
Quem espera as grandes ocasiões 
para provar a sua ternura não sabe amar.

Laure Conan

quarta-feira, 6 de abril de 2011


Aprendamos, Amor

Aprendamos, amor, com estes montes 
Que, tão longe do mar, sabem o jeito 
De banhar no azul dos horizontes. 

Façamos o que é certo e de direito: 
Dos desejos ocultos outras fontes 
E desçamos ao mar do nosso leito. 

José Saramago

segunda-feira, 4 de abril de 2011


Valsas de Esquina de Mignone

Só um pássaro
e seu peso de orvalho tocando
o chão como se foram teclas. 
Passa onde a graça 
ilumina a cidade de ferro
subitamente atenta a essa beleza.


Nos jardins teimam rosas 
delicadamente.
Violetas africanas 
salpicam de ouro 
muros escuros 
e as princesas purpúreas 
espiam dos balcões verdes 
nas paredes florescidas: 
dançam pétalas 
dança a vida
nos jardins contentes 
não termina a partitura 
que se repete 
sempre.


Dora Ferreira da Silva

sábado, 2 de abril de 2011


O meu corpo é um jardim, 
a minha vontade o seu jardineiro.

William Shakespeare