terça-feira, 30 de agosto de 2011


Perfumes e Amor

A flor mimosa que abrilhanta o prado
Ao sol nascente vai pedir fulgor;
E o sol, abrindo da açucena as folhas,
Dá-lhe perfumes - e não nega amor.

Eu que não tenho, como o sol, seus raios,
Embora sinta nesta fronte ardor,
Sempre quisera ao encetar teu álbum
Dar-lhe perfumes - desejar-lhe amor.

Meu Deus! nas folhas deste livro puro
Não manche o pranto da inocência o alvor,
Mas cada canto que cair dos lábios
Traga perfumes - e murmure amor.

Aqui se junte, qual num ramo santo,
Do nardo o aroma e da camélia a cor,
E possa a virgem, percorrendo as folhas,
Sorver perfumes - respirar amor.

Encontre a bela, caprichosa sempre,
Nos ternos hinos d'infantil frescor
Entrelaçados na grinalda amiga
Doces perfumes - e celeste amor.

Talvez que diga, recordando tarde
O doce anelo do feliz cantor:
 "Meu Deus! nas folhas do meu livro d'alma
Sobram perfumes - e não falta amor!"

Casimiro de Abreu

segunda-feira, 22 de agosto de 2011


Timidez 

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
- mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...
- palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
- que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...
e um dia me acabarei.

Cecília Meireles

sábado, 20 de agosto de 2011


Só existe dois dias no ano que nada pode ser feito. 
Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, 
portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, 
fazer e principalmente viver.

Dalai Lama

quinta-feira, 18 de agosto de 2011


"A pintura é uma poesia que se vê e não se sente, 
e a poesia é uma pintura que se sente e não se vê."

Leonardo da Vinci

quarta-feira, 17 de agosto de 2011



Sincero 

Instigar o que é convencional
É acreditar e alar o sonho régio
Agir com a prática passional
Tomar a vida como privilégio
Declamar a poesia com um gesto
Abraçar a quimera e soprar vida
Declarar a alegria em manifesto
Publicar a saudade na despedida
O amor que sinto caminha pelo chão
Reclamo até nos telhados a tua falta
Acalme sem demora o meu coração
Teu brilho avassala o peito trancado
Teu sabor é suave como um néctar
Achega-me esse teu corpo dourado.

James Assaf

segunda-feira, 15 de agosto de 2011


EntréGate

¿Cómo te atreves a mirarme así,
a ser tan bella, y encima sonreir?
Mía, hoy serás mía por fin.
Cierra los ojos, déjate querer.
Quiero llevarte al valle del placer.
Mía, hoy serás mía, lo sé,
Déjame robar el gran secreto de tu piel.
Déjate llevar por tus instintos de mujer.

Entrégate - aun no te siento.
Deja que tu cuerpo se acostumbre a mi calor.
Entrégate, mi prisionera,
La pasión no espera y ya no puedo más de amor.

Abre los ojos, no me hagas sufrir.
No te das cuenta que tengo sed de ti.
Mía, hoy serás mía por fin.
Déjame besar el brillo de tu desnudez.
Déjame llegar a ese rincón que yo soñé.

Entrégate - aun no te siento.
Deja que tu cuerpo se acostumbre a mi calor.
Entrégate sin condiciones,
tengo mil razones, y ya no aguanto más de amor.

Luis Miguel

sábado, 13 de agosto de 2011


Os Teus Pés 

Quando não te posso contemplar
Contemplo os teus pés.
Teus pés de osso arqueado,
Teus pequenos pés duros,
Eu sei que te sustentam
E que teu doce peso
Sobre eles se ergue.
Tua cintura e teus seios,
A duplicada purpura
Dos teus mamilos,
A caixa dos teus olhos
Que há pouco levantaram vôo,
A larga boca de fruta,
Tua rubra cabeleira,
Pequena torre minha.
Mas se amo os teus pés
É só porque andaram
Sobre a terra e sobre
O vento e sobre a água,
Até me encontrarem.

Pablo Neruda

quinta-feira, 11 de agosto de 2011


Silêncio Amoroso

Preciso do teu silêncio
cúmplice
sobre minhas falhas.
Não fale.
Um sopro, a menor vogal 
pode me desamparar.
E se eu abrir a boca
minha alma vai rachar.
O silêncio, aprendo, 
pode construir. É um modo
denso/tenso
- de coexistir.
Calar, às vezes,
é fina forma de amar.

Affonso Romano de Sant'Anna

terça-feira, 9 de agosto de 2011


Soneto de amor

Não me peças palavras, nem baladas, 
Nem expressões, nem alma... Abre-me o seio, 
Deixa cair as pálpebras pesadas, 
E entre os seios me apertes sem receio. 

Na tua boca sob a minha, ao meio, 
Nossas línguas se busquem, desvairadas... 
E que os meus flancos nus vibrem no enleio 
Das tuas pernas ágeis e delgadas. 

E em duas bocas uma língua..., — unidos, 
Nós trocaremos beijos e gemidos, 
Sentindo o nosso sangue misturar-se. 

Depois... — abre os teus olhos, minha amada! 
Enterra-os bem nos meus; não digas nada... 
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce! 

José Régio

quinta-feira, 4 de agosto de 2011



Soneto XI

Tengo hambre de tu boca, de tu voz, de tu pelo
y por las calles voy sin nutrirme, callado,
no me sostiene el pan, el alba me desquicia,
busco el sonido líquido de tus pies en el día.
Estoy hambriento de tu risa resbalada,
de tus manos color de furioso granero,
tengo hambre de la pálida piedra de tus uñas,
quiero comer tu piel como una intacta almendra.
Quiero comer el rayo quemado en tu hermosura,
la nariz soberana del arrogante rostro,
quiero comer la sombra fugaz de tus pestañas
y hambriento vengo y voy olfateando el crepúsculo
buscándote, buscando tu corazón caliente
como un puma en la soledad de Quitratúe.

Pablo Neruda

quarta-feira, 3 de agosto de 2011



Mágico vivir

Arde aún y es espléndida la llama
de aquel fuego. ¿Recuerdas esas tardes,
el canto de los pájaros; la tenue
veladura de un mar casi tan negro
como tus ojos? Súbita, la vida
nos quemaba por vez primera entonces.
Nosotros, qué podíamos hacer
sino aceptar ese secreto incendio,
su agonía y su éxtasis, fundidos
en un mismo sentir inexpresable.
Hiere aún ese mágico vivir:
ya sólo quiero envejecer contigo.

Abelardo Linares

segunda-feira, 1 de agosto de 2011


O Vento na Ilha

O vento é um cavalo
Ouça como ele corre
Pelo mar, pelo céu.
Quer me levar: escuta
como recorre ao mundo
para me levar para longe.

Me esconde em teus braços
por somente esta noite,
enquanto a chuva rompe
contra o mar e a terra
sua boca inumerável.

Escuta como o vento
me chama galopando
para me levar para longe.

Com tua frente a minha frente,
com tua boca em minha boca,
atados nossos corpos
ao amor que nos queima,
deixa que o vento passe
sem que possa me levar.

Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e me busque
galopando na sombra,
entretanto eu, emergido
debaixo teus grandes olhos,
por somente esta noite
descansarei, amor meu.

Pablo Neruda