terça-feira, 19 de abril de 2011


A Beleza

De um sonho escultural tenho a beleza rara, 
E o meu seio, — jardim onde cultivo a dor, 
Faz despertar no Poeta um vivo e intenso amor, 
Com a eterna mudez do marmor' de Carrara 

Sou esfinge subtil no Azul a dominar, 
Da brancura do cisne e com a neve fria; 
Detesto o movimento, e estremeço a harmonia; 
Nunca soube o que é rir, nem sei o que é chorar. 

O Poeta, se me vê nas atitudes fátuas 
Que pareço copiar das mais nobres estátuas, 
Consome noite e dia em estudos ingentes.. 

Tenho, p'ra fascinar o meu dócil amante, 
Espelhos de cristal, que tornaram deslumbrante 
A própria imperfeição: — os meus olhos ardentes! 

Charles Baudelaire