segunda-feira, 30 de maio de 2011


"Na vida só há um modo de ser feliz. 
Viver para os outros."

Lev Tolstoi

quinta-feira, 26 de maio de 2011


Não Tenho Pressa

Não tenho pressa. Pressa de quê? 
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos. 
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas, 
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra. 
Não; não sei ter pressa. 
Se estendo o braço, chego exatamente aonde o meu braço chega - 
Nem um centímetro mais longe. 
Toco só onde toco, não aonde penso. 
Só me posso sentar aonde estou. 
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras, 
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa, 
E vivemos vadios da nossa realidade. 
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui. 

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

segunda-feira, 23 de maio de 2011


O Maior Bem

Este querer-te bem sem me quereres, 
Este sofrer por ti constantemente, 
Andar atrás de ti sem tu me veres 
Faria piedade a toda a gente. 

Mesmo a beijar-me a tua boca mente... 
Quantos sangrentos beijos de mulheres 
Pousa na minha a tua boca ardente, 
E quanto engano nos seus vãos dizeres!... 

Mas que me importa a mim que me não queiras, 
Se esta pena, esta dor, estas canseiras, 
Este mísero pungir, árduo e profundo, 

Do teu frio desamor, dos teus desdéns, 
É, na vida, o mais alto dos meus bens? 
É tudo quanto eu tenho neste mundo? 

Florbela Espanca

domingo, 22 de maio de 2011


Teus Olhos

Teus olhos são a pátria do relâmpago e da lágrima, 
silêncio que fala, 
tempestades sem vento, mar sem ondas, 
pássaros presos, douradas feras adormecidas, 
topázios ímpios como a verdade, 
outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro 
duma árvore e são pássaros todas as folhas, 
praia que a manhã encontra constelada de olhos, 
cesta de frutos de fogo, 
mentira que alimenta, 
espelhos deste mundo, portas do além, 
pulsação tranquila do mar ao meio-dia, 
universo que estremece, 
paisagem solitária. 

Octavio Paz

sábado, 21 de maio de 2011


Grande Amor

Grande amor, grande amor, grande mistério 
Que as nossas almas trêmulas enlaça... 
Céu que nos beija, céu que nos abraça 
Num abismo de luz profundo e sério. 
Eterno espasmo de um desejo etéreo 
E bálsamo dos bálsamos da graça, 
Chama secreta que nas almas passa 
E deixa nelas um clarão sidéreo. 
Cântico de anjos e de arcanjos vagos 
Junto às águas sonâmbulas de lagos, 
Sob as claras estrelas desprendido... 
Selo perpétuo, puro e peregrino 
Que prende as almas num igual destino, 
Num beijo fecundado num gemido.

Cruz e Souza

quinta-feira, 19 de maio de 2011


Desprezo e Receio

Já notei que a maior parte dos homens se sente açulada e indignada quando, em pleno combate moral, recorremos à ternura e ao afeto. É vê-los feras amansadas e apanhadas de surpresa assim que recorremos à violência ou à dureza. Raça detestável! Tal preceito mantém-se praticamente inalterável no que respeita ao amor. 
Realidade estranha e deplorável, pois, em muitos casos, é igualmente aplicável à amizade; realidade pavorosa, desesperante, mas inevitável, necessária à subsistência das nossas sociedades, dos governos mais democráticos aos mais despóticos. Quando não é refreado nem reprimido, o homem aproveita imediatamente para cometer abusos. Despreza quem o receia e maltrata quem o ama; receia quem o despreza e ama quem o maltrata. 

George Sand

quarta-feira, 18 de maio de 2011


"O amor não tem idade; 
está sempre a nascer."

Blaise Pascal

domingo, 15 de maio de 2011


Talvez

Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém 
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,

E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos...
E por amor
Serei... Serás...Seremos...

Pablo Neruda

sábado, 14 de maio de 2011


Amo-te como a planta que não floriu e tem
dentro de si, escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te diretamente sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,

a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.

Pablo Neruda

"Fazer poesia é confessar-se."

Friedrich Klopstcock

sexta-feira, 13 de maio de 2011


Devo-te

Devo-te tanto como um pássaro 
deve o seu voo à lavada 
planície do céu. 

Devo-te a forma 
novíssima de olhar 
teu corpo onde às vezes 
desce o pudor o silêncio 
de uma pálpebra mais nada. 

Devo-te o ritmo 
de peixe na palavra, 
a genesíaca, doce 
violência dos sentidos; 
esta tinta de sol 
sobre o papel de silêncio 
das coisas - estes versos 
doces, curtos, de abelhas 
transportando o pólen 
levíssimo do dia; 
estas formigas na sombra 
da própria pressa e entrando 
todas em fila no tempo: 
com uma pergunta frágil 
nas antenas, um recado invisível, o peso 
que as deixa ser e esquece; 
e a tua voz que compunha 
uma casa, uma rosa 
a toda a volta - ó meu amor vieste 
rasgar um sol das minhas mãos! 

Vítor Matos e Sá

quarta-feira, 11 de maio de 2011


Frémito do Meu Corpo 
a Procurar-te

Frémito do meu corpo a procurar-te, 
Febre das minhas mãos na tua pele 
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel, 
Doído anseio dos meus braços a abraçar-te, 

Olhos buscando os teus por toda a parte, 
Sede de beijos, amargor de fel, 
Estonteante fome, áspera e cruel, 
Que nada existe que a mitigue e a farte! 

E vejo-te tão longe! Sinto tua alma 
Junto da minha, uma lagoa calma, 
A dizer-me, a cantar que não me amas... 

E o meu coração que tu não sentes, 
Vai boiando ao acaso das correntes, 
Esquife negro sobre um mar de chamas... 

Florbela Espanca

quinta-feira, 5 de maio de 2011


"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, 
acrescentariam nova luminosidade às estrelas, 
nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens."

Fernando Pessoa

terça-feira, 3 de maio de 2011


Aquilo que se faz por amor 
está sempre além do bem e do mal.

Friedrich Nietzsche

domingo, 1 de maio de 2011


A Mulher

Se é clara a luz desta vermelha margem 
é porque dela se ergue uma figura nua 
e o silêncio é recente e todavia antigo 
enquanto se penteia na sombra da folhagem. 
Que longe é ver tão perto o centro da frescura 

e as linhas calmas e as brisas sossegadas! 
O que ela pensa é só vagar, um ser só espaço 
que no umbigo principia e fulge em transparência. 
Numa deriva imóvel, o seu hálito é o tempo 
que em espiral circula ao ritmo da origem. 

Ela é a amante que concebe o ser no seu ouvido, na corola 
do vento. Osmose branca, embriaguez vertiginosa. 
O seu sorriso é a distância fluida, a sutileza do ar. 
Quase dorme no suave clamor e se dissipa 
e nasce do esquecimento como um sopro indivisível. 

António Ramos Rosa