segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011


Ansiedade

Quero compor um poema 
onde fremente 
cante a vida 
das florestas das águas e dos ventos. 

Que o meu canto seja 
no meio do temporal 
uma chicotada de vento 
que estremeça as estrelas 
desfaça mitos 
e rasgue nevoeiros — escancarando sóis! 

Manuel da Fonseca

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011


Correspondências

A natureza é um templo augusto, singular, 
Que a gente ouve exprimir em língua misteriosa; 
Um bosque simbolista onde a árvore frondosa 
Vê passar os mortais, e segue-os com o olhar. 

Como distintos sons que ao longe vão perder-se, 
Formando uma só voz, de uma rara unidade, 
Tem vasta como a noite a claridade, 
Sons, perfumes e cor logram corresponder-se 

Há perfumes sutis de carnes virginais, 
Doces como o oboé, verdes como o alecrim, 
E outros, de corrupção, ricos e triunfais 

Como o âmbar e o musgo, o incenso e o benjoim, 
Entoando o louvor dos arroubos ideais, 
Com a larga expansão das notas de um clarim. 

Charles Baudelaire

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011




Quero Ficar Com Você


Quero ficar com você 
E é tão fundo que eu posso dizer 
Que o fim do mundo 
Não vai chegar mais 

Quero ficar com você 
E é a glória do saber querer 
com longa história 
Pra frente e para trás 

Não quero que o nosso amor 
Seja um buraco no não 
Mas sinal na trajetória 
Da vida e da canção 
Marca de queda e vitória 
Na palma da mão 
Sombra, memória e por vir do coração 

Quero ficar com você 
E é tão fundo que eu posso dizer 
Que o fim do mundo 
Não vai chegar mais 

Quero ficar com você 
E é a glória do saber querer 
Com longa história 
Pra frente e para trás 

Não deixe que o nosso amor 
Seja um corisco no caos 
Mas passos da liberdade 
Pisando seus degraus 
Feito de momentos bons 
E de momentos maus 
De descobertas de ventos 
Velas naus


Autor desconhecido
Musica/Intéprete: Caetano Veloso

domingo, 13 de fevereiro de 2011



O amor é a arte de encontrar no rosto do outro
 o espelho dos nossos sonhos.

Inês Pedrosa

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

10 de fevereiro

O amor é um rio
onde as águas
 de dois ribeiros se misturam
sem se confundir

Jacques Bénigne Bossuet

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011


O vinho

Quando você chegar
Veja o tempo passando
Pelas Flores do Mal

Só o tempo não vê
Que eu estou esquecido
Esperando você

A noite já passou
E eu detesto revelar que andei sofrendo
Mas há um resto de saudade em seu olhar
E uma promessa de prazeres ciumentos
Meu amor

Não devemos tentar
Enganar o amor
Nem duvidar do vinho
Uma frase vulgar
Pode surpreender
Num imenso carinho

Pra que dizer que não
Verdades são banais e mesmo assim
Por caprichos vãos
Mentiras levarão você de mim

Perdidos na escuridão
Seus olhos na minha saudade
Seu vestido está em minha mãos 
Sua voz por toda a cidade
Nessas canções que eu faço
Permanece o meu destino
De adormecer em seus braços
E sonhar como um menino

Quero só pensar em ti 
Em seu colo adormecer
E acordar com mais vontade de viver .

Raimundo Fagner & Fausto Nilo

domingo, 6 de fevereiro de 2011


A Palavra

Eleva-se entre a espuma, verde e cristalina 
e a alegria aviva-se em redonda ressonância. 
O seu olhar é um sonho porque é um sopro indivisível 
que reconhece e inventa a pluralidade delicada. 
Ao longe e ao perto o horizonte treme entre os seus cílios. 

Ela encanta-se. Adere, coincide com o ser mesmo 
da coisa nomeada. O rosto da terra se renova. 
Ela aflui em círculos desagregando, construindo. 
Um ouvido desperta no ouvido, uma língua na língua. 
Sobre si enrola o anel nupcial do universo. 

O gérmen amadurece no seu corpo nascente. 
Nas palavras que diz pulsa o desejo do mundo. 
Move-se aqui e agora entre contornos vivos. 
Ignora, esquece, sabe, vive ao nível do universo. 
Na sua simplicidade terrestre há um ardor soberano. 

António Ramos Rosa

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011


Idílio

Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;

Ou, vendo o mar das ermas cumeadas
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longo, no horizonte, amontoadas:

Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão e empalideces

O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.

Antero de Quental