segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011


Correspondências

A natureza é um templo augusto, singular, 
Que a gente ouve exprimir em língua misteriosa; 
Um bosque simbolista onde a árvore frondosa 
Vê passar os mortais, e segue-os com o olhar. 

Como distintos sons que ao longe vão perder-se, 
Formando uma só voz, de uma rara unidade, 
Tem vasta como a noite a claridade, 
Sons, perfumes e cor logram corresponder-se 

Há perfumes sutis de carnes virginais, 
Doces como o oboé, verdes como o alecrim, 
E outros, de corrupção, ricos e triunfais 

Como o âmbar e o musgo, o incenso e o benjoim, 
Entoando o louvor dos arroubos ideais, 
Com a larga expansão das notas de um clarim. 

Charles Baudelaire