sexta-feira, 22 de julho de 2011



O teu riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda

3 comentários:

  1. Pablo Neruda, uno de los grandes.

    Siempre es un gusto pasar por tu espacio querida Jacque.

    Te dejo un fuerte abrazo y un beso.

    Feliz fin de semana.

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  2. Jacque
    O sorriso é a certeza de que existe felicidade.
    com carinho Monica

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  3. Que belo poema, Jacque! Sorria, que a vida sorrirá para ti. Um sorriso é tudo nas nossas vidas por vezes angustiadas...ele nos faz feliz. Ficarei feliz se me seguires.
    Bjos
    Zelia Cunha

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