sexta-feira, 17 de dezembro de 2010


Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa

3 comentários:

  1. Releio e digo: "Fui eu?"
    Deus sabe, porque o escreveu.

    que hermoso amiga... lindo demais... adorei cada uma de as letra poesia pura...

    saludos
    abracos
    otima semana

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  2. Muchas veces se escribe con dos almas en el hilo de la vida... al final es para tener calma... muy bella poesía la que nos compartes querida Nine...

    beijos
    ...
    Juan José

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  3. Eternamente Ferno Pessoa! Muitas vezes também chego a dúvidar de que tenho uma só alma, pois são tantas de mim a divagar pór í. Muitas nuances, muitas cores, amores... assim somos constituidos todos? Porém só Deus sabe mesmo os "por quês"... bjs

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