sábado, 7 de agosto de 2010


Metade

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo
seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso
mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste,
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

Oswaldo Montenegro

7 comentários:

  1. Existem certas ocasiões em que temos de revelar metade dos nossos segredos para manter oculto a outra metade.

    Beijo

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  2. "Porque metade de mim é amor
    E a outra metade também."

    Muito bonito!
    Bjs.

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  3. Hola Jacque, paso a saludarte y desearte un feliz fin de semana.

    Precioso poema como siempre querida.

    Hasta pronto.

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  4. Minha Querida
    Lindo este espaço...maravilhoso o poema... e eu sou a metade que te lê e tu...a metade que escreves.
    beijo e boa semana
    Graça

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  5. Lindo o teu poema, eu sou metade de sonhos a outra metade de medos de sonhar, e não encontrar a metade que me fez acordar,eo medo de perder, bj

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  6. Jacque

    Postaste e deste a conhecer um maravilhoso poema de Oswaldo Montenegro. Mais uma vez, a tua sensibilidade fica patente, na opção tomada.
    Beijos

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  7. Querida Nine..

    Muy bonito blog que ese gusto tuyo de compartir solamente lo mejor que tú puedes dar... ese compartir que lo haces lindo...

    beijos

    JUan José

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